Foram encontrados durante uma organização de rotina nos arquivos do Colégio Estadual Carmela Dutra vários documentos que retratam o período em que vigorou no Brasil a ditadura militar (1964-1985).
Durante este período de repressão e autoritarismo institucional em que as liberdades civis sofreram fortes restrições, os instrumentos repressivos do Estado se instalaram em praticamente todas as instituições do país, não sendo diferente nas instituições de ensino, um dos instrumentos responsáveis pela doutrinação ideológica do regime.
Além da alteração no currículo escolar em que disciplinas consideradas subversivas foram retiradas da grade (como Filosofia, História e Geografia, substituídas por Estudos Sociais/Educação Moral e Cívica/ Organização Social e Política Brasileira), as escolas materializavam em todos os aspectos os valores, os métodos e os princípios que sustentavam o regime militar.
Professores, estudantes e demais membros da sociedade civil que não aceitassem as diretrizes oficiais eram perseguidos, havendo a possibilidade de serem demitidos, presos, torturados ou até mesmo mortos, dependendo do posicionamento adotado no âmbito da sua militância de resistência.
Em um dos documentos encontrados nos arquivos do Carmela Dutra datado de março de 1971, o diretor daquele período relata ao Tenente responsável pela Junta Militar Regional o comportamento do padre da cidade na época, que de acordo com o documento havia proferido em um sermão críticas a escola João de Giuli. No mesmo documento o diretor relata ao tenente que o padre feriu os princípios estabelecidos pela Revolução de 31 de Março de 1964, que proibia dentre outras coisas "agitações" e "contaminações da opinião pública".
Na verdade, a chamada Revolução de 31 de março de 1964 nada mais foi que a ditadura militar cruel e repressiva que prendeu, torturou e assassinou centenas de brasileiros por pensarem diferente dos que se instalaram no poder através da força.
Em um outro documento, desta vez enviado pelo governo a escola, fala de uma tal de "Mobilização Nacional pela Descomunização do Brasil", em que alerta sobre a possibilidade de os comunistas estarem organizando uma Revolução Socialista no Brasil.
E adivinhem quem seriam os salvadores da pátria contra a "ameaça comunista"? Os militares é claro.
A presença destes arquivos no Carmela Dutra poderão servir como um importante instrumento para os professores de História abordarem a questão da ditadura militar no Brasil, trabalhando com fontes históricas fidedignas ao período em questão.
Não obstante, a existência destes documentos abre a possibilidade para a realização de uma pesquisa minunciosa nos arquivos da escola com o objetivo de investigar as implicações do momento histórico da ditadura no cotidiano escolar e da sociedade como um todo.